Durante o G20, que ocorreu no Brasil, retornou a discussão sobre a taxação dos super-ricos. A crescente concentração de riqueza nas mãos de uma pequena parcela da população tem gerado debates intensos sobre a equidade fiscal. A taxação dos super-ricos, uma proposta que visa aumentar a carga tributária dos cidadãos mais pobres financeiramente, ganha cada vez mais destaque como uma medida para reduzir as desigualdades sociais e fortalecer as finanças públicas.
Neste artigo, exploraremos o conceito, os possíveis impactos dessa medida, e os desafios existentes, tanto para a economia quanto para a sociedade. E ainda, entenderemos o posicionamento do Brasil nesse assunto.
1. O que é a Taxação dos super-ricos?
A taxação dos super-ricos é uma política tributária que busca aumentar a carga de impostos sobre os indivíduos mais ricos de uma sociedade, geralmente definidos como aqueles com rendimentos, patrimônios ou fortunas muito acima da média da população. Essa estratégia visa reduzir desigualdades sociais, aumentar a arrecadação pública e promover maior justiça fiscal.
Durante o G20, retornou as discussões sobre esse tema. Foi destacado que cerca de 3 mil pessoas no mundo concentram uma riqueza estimada em US$ 15 trilhões, superando o Produto Interno Bruto (PIB) de muitos países. Com uma tributação sobre essas pessoas de forma correta, os valores arrecadados poderiam ser utilizados em programas sociais, infraestrutura sustentável e estratégias para reduzir desigualdades econômicas entre as populações. Algumas das formas de taxação que pretendem aplicar são:
1) Imposto sobre grandes fortunas: incide diretamente sobre o patrimônio líquido de cidadãos muito ricos, incluindo propriedades, investimentos e ativos financeiros;
2) Alíquotas progressivas no imposto de renda: aplicação de alíquotas mais altas para rendas acima de determinados patamares;
3) Tributação de heranças e doações: cobrança de impostos mais elevados em transferências de riqueza, como heranças e doações;
4) Tributação de investimentos sofisticados: como fundos exclusivos, offshores e outras estruturas financeiras que muitas vezes escapam de tributações periódicas.
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2. Quais impactos esperados?
A taxação dos super-ricos, se implementada de forma correta, pode transformar cenários econômicos e sociais ao redor do mundo.
Na área ambiental, por exemplo, os recursos arrecadados podem financiar a transição energética para fontes renováveis, reduzindo emissões de carbono e desacelerando as mudanças climáticas. No contexto social, a medida pode contribuir para reduzir o número alarmante de pessoas que enfrentam a fome. Parte da arrecadação gerada pela taxação pode financiar programas que ampliem o acesso a alimentos e combatam a pobreza de maneira estruturada.
Porém, sabemos que para que essa ações ocorram, vai depender da vontade política e da cooperação entre os países, mas já podemos ver um consenso coletivo em usar a tributação como ferramenta para promover justiça social e sustentabilidade. Assim, pode ser redefinido o papel dos mais ricos na sociedade, garantindo que contribuam para o bem-estar global. Ao fortalecer economias e reduzir desigualdades, a taxação dos super-ricos pode se tornar uma das políticas mais transformadoras deste século.
3. Os desafios para implementar
Mesmo ocorrendo grande colaboração entre vários países, a taxação dos super-ricos enfrenta desafios consideráveis, entre eles políticos e administrativos. Cada país possui autonomia para decidir como implementar sua política tributária, e isso pode dificultar uma coordenação global efetiva. Abaixo estão alguns desafios enfrentados globalmente:
1) Evasão Fiscal e Paraísos Fiscais
Os indivíduos mais ricos, frequentemente, utilizam paraísos fiscais e estruturas corporativas complexas para minimizar suas obrigações fiscais. Estima-se que trilhões de dólares estejam escondidos em jurisdições com baixa ou nenhuma tributação, dificultando a aplicação de impostos progressivos.
2) Resistência Política
Grupos econômicos poderosos têm grande influência política, financiando campanhas ou pressionando governos para barrar legislações que aumentem a tributação. Uma mudança desse ponto pode gerar grande perda por parte dos políticos mundiais.
3) Desafios Administrativos
Em muitos países, a falta de sistemas robustos para rastrear rendas e fortunas dificulta a identificação de quem deve pagar impostos mais altos. Economias emergentes, em particular, enfrentam limitações tecnológicas e humanas para implementar sistemas tributários sofisticados.
4. Posicionamento do Brasil sobre a taxação dos super-ricos
Os políticos brasileiros, atuais, se consideram a favor da taxação dos super-ricos. O governo federal, por meio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem defendido a iniciativa como um movimento para alinhar o Brasil às práticas tributárias de países desenvolvidos e reforçar os cofres públicos. Essa medida é também uma tentativa de compensar renúncias fiscais associadas à ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda. Por outro lado, há desafios como evitar a fuga de capitais e garantir um sistema de fiscalização eficiente. Especialistas apontam a necessidade de equilíbrio entre a arrecadação e a manutenção de investimentos e fluxos de capitais no país. Aqui estão as principais propostas do governo:
1) Mudança no Imposto de Renda
O governo propõe taxar rendas acima de R$ 1 milhão anuais com alíquota de 12%, o que pode gerar uma arrecadação extra de R$ 44,8 bilhões por ano. Essa iniciativa busca compensar a isenção do IR para trabalhadores que ganham até R$ 5 mil por mês.
2) Fundos Exclusivos
O projeto também visa tributar fundos exclusivos, que atualmente só pagam impostos no resgate. Passariam a ser cobrados periodicamente, com potencial para aumentar a arrecadação tributária sobre grandes patrimônios.
3) Rendimentos no Exterior e Offshores
Propostas incluem maior tributação sobre trusts e ativos mantidos no exterior, estimados em mais de R$ 1 trilhão. A ideia é alinhar o Brasil às práticas internacionais, combatendo a evasão fiscal e promovendo a justiça tributária.
Nos outros países, a tributação progressiva sobre grandes fortunas é usada para financiar programas sociais e reduzir desigualdades, mas os efeitos são diversos, variando conforme o rigor fiscal e a capacidade administrativa local.